Arquivo da categoria ‘Cibercultura’

Muitos questionamentos vieram junto à avalanche de notícias sobre os programas de incentivo ao uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) nas escolas brasileiras.

No dia 01/02/2012 uma matéria do site Gizmodo apontou “As histórias de Um Computador por Aluno: adaptação, laptops roubados, sucesso em sala” (http://goo.gl/4Rf6m). Nela um caso de sucesso do programa Um Computador por Aluno (UCA) é destacado em Guarulhos (SP) e outro, controverso, é apontado em um centro de Ensino da Ceilândia (DF). A publicação mostra a importância do planejamento para o uso do laptop educacional em sala de aula.

Um dia depois, o Estadão estampa a matéria “MEC atropela processo e compra tablets – Licitação é aberta antes que resultados da distribuição de laptops fossem conhecidos” (http://goo.gl/uymaH). Foi anunciado que o Ministério iria abrir uma licitação para a compra de 900 mil tablets para o uso nas escolas, uma iniciativa paralela ao programa UCA.

Em um tom mais ameno, a página do MEC anunciava no mesmo dia (02/02) que o “Ministério distribuirá tablets a professores do ensino médio” (http://goo.gl/P8T5P). De forma pouco detalhada a publicação afirma que serão investidos R$150 milhões na compra de 600 mil tablets, contradizendo os números do Estadão. Segundo o Ministro Mercadante, o objetivo seria o de “oferecer instrumentos e formação aos professores e gestores das escolas públicas para o uso intensivo das tecnologias de informação e comunicação (TICs) no processo de ensino e aprendizagem”. Note que a palavra “formação” é o objeto primeiro da fala do Ministro, mas a matéria trouxe poucos detalhes sobre como esse processo será efetivado.

A surpresa maior veio em 04/02/2012, em tom contundente o Estadão divulgou : “Dilma trava programa de laptops de Lula” (http://goo.gl/V7jqU). Seria o fim do UCA? Segundo a matéria, o Ministro Aluízio Mercadante teria afirmado que o programa contaria com o aprofundamento de reflexões. O motivo da problematização sobre o UCA seria a conclusão do relatório encomendado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a qual afirma que “O desenho do projeto subestimou as dificuldades de apropriação da tecnologia pelos professores do ensino fundamental e médio em comunidades relativamente carentes, o que levou a um subaproveitamento do UCA em sala de aula“.

Computadores, laptops ou tablets? Isso pouco importa. A cultura digital se impõe às escolas, que precisam formar cidadãos críticos para uma sociedade mediada pelas tecnologias digitais. As tecnologias não são os objetos da formação, são meios pelo quais os processos educacionais podem ser mais atraentes, efetivos e compatíveis com a contemporaneidade. O planejamento dessas ações de inclusão digital nas escolas precisam contar com detalhes que envolvem não só os equipamentos em si, mas também a logística, manutenção, infraestrutura elétrica e de tráfego de dados (banda larga) etc. Entretanto, o principal foco de todo o planejamento é – sem sombra de dúvida – a formação dos professores. Investir em novos equipamentos não resolverá os problemas que são apontados pelo relatório da SAE, pelo contrário: eles serão diversificados e possivelmente ampliados. É necessário maior clareza nesse quesito e também um aprofundamento da discussão sobre o papel das universidades mediante a educação na/para a cibercultura.

Jéssica Regina Romão Cabral e Marcinho Lima

Vivemos em uma era de mudanças, onde acolhemos as tecnologias digitais transformando-as em cultura. Mas há uma diferença: alguns de nós somos  “Nativos Digitais” e outros “Imigrantes Digitais”. Os Nativos Digitais são pessoas que já nascem na cultura digital, já os Imigrantes Digitais são as pessoas que se esforçam na adaptação do uso dessas tecnologias. Analisando estes conceitos nas salas de aula de hoje, percebemos que as crianças chegam às escolas com esta cultura tecnológica aflorada e encontram professores que ainda estão aprendendo e se inserindo nessa nova cultura.

É possível imaginar que essas gerações entram em conflito, pois os alunos chegam às salas de aula esperando uma forma de ensino mais interativa e participativa, com conceitos passados com dinamismo, similar ao que acontece na Internet. Já os professores insistem no senso comum pedagógico criticado por Paulo Freire: os docentes veem o aluno como um repositório vazio onde podem ser depositados conteúdos, equações, datas e fatos, sem qualquer interação na construção de conhecimentos por parte do sujeito (metáfora da conta bancária).


Vivemos a cibercultura, os alunos e suas formas de aprender mudaram. Isso impele à educação a reconfiguração de seus processos. Um primeiro passo – que inclusive precede a cultura digital – rumo a essa mudança é o reconhecimento por parte do professor que o aluno é sujeito da sua aprendizagem, é quem realiza a ação e não alguém quem sofre ou recebe uma ação. Se a aprendizagem é um processo interno, que ocorre como resultado da ação do sujeito, o professor tem como papel mediar e criar condições para a aprendizagem efetiva dos alunos.

Um segundo passo para essa mudança é a aceitação que os meios virtuais podem servir como ambientes para o melhor aprendizado dos alunos. Quando os professores entendem e incorporam essas sugestões, o processo de ensino-aprendizagem pode fluir de uma forma mais agradável e prazerosa, facilitando e ampliando a relação do aluno-professor. Nessa perspectiva, o aluno pode ser motivado a deixar de ser apenas espectador,  participando ativa e colaborativamente da construção de seu conhecimento. Torna-se, portanto, sujeito de sua aprendizagem.

A utilização do virtual no enriquecimento da prática pedagógica é muito importante, já que os alunos estão imersos na cultura digital. Entretanto, os professores não devem encarar a utilização das tecnologias como caráter único e primeiro de sua ação educativa, não devem ser reféns desses instrumentos. Precisam reconhecer a realidade sociotécnica e, criticamente, repensar e recriar sua pratica, tornando-a compatível ao cenário da cibercultura.

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Esse texto é de autoria compartilhada com a acadêmica  Jéssica Regina Romão Cabral, da Licencitura em Física pela Universidade Federal de São João del-Rei. É fruto das interlocuções em sala de aula e na Internet.

Os conceitos de “Nativo Digital” e “Imigrante Digital” são de autoria de Marc Prensky. (Marc Prensky, (2001) “Digital Natives, Digital Immigrants Part 1”, On the Horizon, Vol. 9 Iss: 5, pp.1 – 6)

Recentemente assumi vaga docente (proveniente de concurso público)  na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Trouxe comigo a lembrança e os ótimos momentos que passei em minha estadia docente na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM/Diamantina), onde fiz amigos: professores e alunos.

Esse semestre atuei na Licenciatura em Física e trabalhei o “Ensino de Ciências”. Algo que norteou meu trabalho de formação de professores  foi a necessidade de desenvolver um processo  que buscasse romper com o paradigma do ensino baseado exclusivamente na perspectiva da transmissão e o uso de estratégias tradicionais de sua perpetuação. Além dos tópicos norteados pela pesquisa de Ensino de Ciências, a cibercultura e o uso dos recursos do ciberespaço dentro e fora da sala de aula foram presentes nas discussões, que renderam e vêm rendendo bons frutos. Abaixo, um deles, um pequeno texto em co-autoria com um aluno: Bruno Caldas Coelho.

Aluno bom é aluno ativo!

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A cibercultura e a rápida reconfiguração do ciberespaço instrumentado pela WEB 2.0 estão propiciando um novo paradigma para a comunicação e para o acesso à informação em rede. Esse fato sugere mudanças nos processos educacionais em curso, buscando sua adaptação à realidade e a concepção de novas formas de (re)construção do conhecimento.

“Nativos Digitais” é o termo utilizado por Marc Prensky  para caracterizar a nova geração de alunos que já começaram a vida inserida no ambiente tecnológico digital, onde a rapidez, a facilidade de acesso e produção de conteúdos são fatores capazes de promover mudanças no senso comum pedagógico (ensino transmissivo). De acordo com Prensky, “…eles [os nativos digitiais] passaram a vida inteira cercados e usando computadores, vídeo games, tocadores de música digitais, câmeras de vídeo, telefones celulares, e todos os outros brinquedos e ferramentas da era digital”, assim perde-se o sentido das escolas continuarem a insistir somente nos materiais e métodos tradicionais. A tecnologia digital permite, além da implementação de uma gama de estratégias educacionais, a ampliação do diálogo entre os professores e alunos na rede. Com isso, podem-se concretizar processos de aprendizagem não somente no espaço físico escolar, mas também num ambiente virtual com acesso remoto e em qualquer horário desejado.

André Lemos comenta em seu artigo sobre Cibercultura, a evolução da esfera midiática e a mudança na forma de interação possível: “[…] cada transformação midiática altera nossa percepção espaço temporal, chegando na contemporaneidade a vivenciarmos uma sensação de tempo real, imediato, ‘live’, e de abolição do espaço físico-geográfico”. Essa prerrogativa confirma a idéia de Prensky, de que o ambiente digital permite ir muito além do sistema educacional tradicional, que exige o espaço físico para a efetivação da educação supostamente de qualidade. Emerge com o virtual um espaço interativo, dialógico, acessível e colaborativo para os processos de aprendizagem.

A interatividade no virtual permite ao discente maiores possibilidades construção de conhecimento com esclarecimento de dúvidas, proposição de sugestões, exposição de interesses e concretização de propostas investigativas. O conteúdo da unidade curricular trabalhado junto do professor pode ser (re)discutido em grupo e em rede. A troca coletiva de impressões aliada aos recursos da multimídia podem potencializar a aprendizagem, afinal o aluno interage com o seu grupo mediado pelas funcionalidades da web, deixando de ser um receptor do conhecimento e se posicionando como sujeito ativo e construtor de sua própria aprendizagem.

O ensino de ciências com tecnologias digitais pode envolver simulações virtuais – como as do http://phet.colorado.edu/ – que facilitam execução de práticas experimentais, minimizam os riscos à integridade física dos estudantes e também as dificuldades de acesso aos laboratórios especializados. Cabe esse destaque, pois é importante a busca de novas formas de estímulo intelectual para o desenvolvimento cognitivo do discente. O professor, sujeito importante na promoção da aprendizagem, deve buscar ampliar as estratégias de interação com os alunos e com os conteúdos trabalhados. Nesse sentido, os recursos virtuais podem ser ampliados pelo ciberespaço e trazer novas perspectivas para o ensino-aprendizagem. Espera-se com isso o aumento da adesão às práticas no virtual e uma maior motivação dos alunos nesses processos.

Bibliografia:


PRENSKY, Marc. Digital Natives, Digital Immigrants. On the Horizon, 2001.

LEMOS, André; Cibercultura: Alguns pontos para compreender a nossa época. In: Olhares sobre a Cibercultura. Sulina, Porto Alegre, 2003; pp. 11-23

DELIZOICOV, Demétrio; ANGOTTI, José André; PERNAMBUCO, Marta Maria. Ensino de ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002. 364p.

Com o tema “Perspectivas de Inovação” a Conferência Internacional de Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação – Challenges 2011 – foi realizada pelo Centro de Competência da Universidade do Minho em Braga/Portugal, nos dias 12 e 13 de maio de 2011. Essa foi a sétima edição da Conferência Internacional, que ao longo de sua história vem promovendo o debate sobre Educação e as TICs. A Challenges consolidou-se, portanto, como uma referência para os pesquisadores que buscam a reflexão e a implementação de abordagens que imbricam a Educação à cibercultura.

Para fazer valer nossa participação – Eu, o professor Fernando Gripp e a educadora física e ex-acadêmica Ana Flávia Baracho (todos com vínculo na UFVJM) – propusemos à Comissão organizadora do Evento um desafio: se a Challenges fomenta o uso das TICs na Educação, por que não aproximar tal discurso do formato de participação dos pesquisadores no Evento? O desafio foi aceito pela Comissão no dia 9/05/2011, quando anunciou oficialmente em seu site o aceite da proposta (http://www.nonio.uminho.pt/challenges2011/?p=1137 ). Foi então que apresentamos no dia 12/05 o trabalho “Os Exergames e a Educação Física Escolar na Cultura Digital”, via Skype.

Challenges 2011 - Prof. Márcio Lima; Prof. Fernando Gripp; Acadêmica Ana Baracho

O trabalho apresentado na Conferência trata da aproximação entre a prática esportiva e a realidade virtual via exergames (jogos eletrônicos que captam e virtualizam os movimentos reais dos usuários). Com o objetivo de discutir as perspectivas da utilização dos videogames na educação física escolar, participaram do estudo 117 alunos de uma escola pública de Diamantina/MG. Durante a pesquisa, os voluntários relataram suas percepções sobre a experiência com o jogo de Basebol, na versão do exergame e a tradicional. Os resultados constataram a imersão dos estudantes na cultura digital e no processo de virtualização que lhe é típico, apontando algumas perspectivas da utilização crítica da virtualidade como forma de ampliação e (re)criação das possibilidades das práticas e vivências corporais. O trabalho final foi aprovado e será publicado integralmente na Revista Brasileira de Ciências do Esporte, que é editada pelo Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE), no ano de 2011.

Agradecemos à Comissão Organizadora da Challenges pela oportunidade de nossa apresentação, especialmente à pesquisadora Elaine Barbosa (Universidade do Minho/Portugal), que não poupou esforços para o sucesso da apresentação e para a inovação na forma de nossa participação. Somos gratos também ao professor António José Osório (Universidade do Minho/Portugal) e a professora Ingrid Dittrich Wiggers (UnB), que junto a outros participantes acompanharam a conferência online e interagiram conosco, proporcionando a oportunidade de uma excelente discussão acadêmica.

Interatividade via Skpye na Challenges 2011

A Challenges 2011 terminou com a promessa de que o formato virtual de participação será incorporado em suas futuras edições. O virtual, embora não substitua o atual, possibilitou a democratização/inovação da nossa participação na Conferência. Entendemos o virtual como uma forma de expansão, que quebra as fronteiras físicas e financeiras, afinal estivemos presentes na Challenges e fomos muito felizes!

O professor Marco Silva (UERJ/UNESA) atualizou o conceito de interatividade associando-o com a educação na cibercultura. Sua tese de doutoramento foi adaptada e editada no livro “Sala de aula interativa” – uma leitura indispensável aos ciberdocentes.

Nesse vídeo, Marco apresenta sua perspectiva e nos convida à interatividade.

Se a cibercultura instiga-nos à leitura e a escrita com os meios digitais, o ensino-aprendizado nessa cultura inspira-nos o (re)posicionamento como professores e alunos mediante as nova possibilidades interativas do virtual.

Aqui temos um “marco” para a Educação 2.0. Está ao nosso alcance o rompimento com a barreira exclusiva da transmissão, a horizontalização da prática pedagógica e o benefício da virtualidade com as interfaces digitais. Depende de nós! Aceita o desafio?

Por que usar Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação? Essa foi a pergunta que gerou a tag #PorqueTic no Twitter e agregou um debate virtual entre educadores. Abaixo selecionei algumas participações.

@CiberMarcinho Marcinho Lima
#PorqueTic ? Por que as TICs fomentam a leitura do mundo e podem contribuir com uma educação socialmente referenciada! Depende de nós!

@NexPeople – NexPeople
Métodos tradicionais eram funcionais na soc. industrial. E são absolutamente disfuncionais na sociedade em rede.

@NexPeople – NexPeople
A escola não pode continuar brincando de avestruz, enterrando a cabeça no passado, ignorando os desafios de hoje

@SoniaBertocchi – Sonia Bertocchi
Porque a escola não pode viver apartada da cultura da sua época. Estamos em tempos de cultura digital!

@cintiayuri – Cintia Yuri Nishida
Tecnologia já é parte da vida de crianças e adolescentes e com a orientação do professor a educação pode continuar além da escola

@starpy – Estrella López
Porque motivan, acercan el conocimiento, enlazan personas e intereses comunes, favorecen la capacidad crítica, ayudan a compartir

@CiberMarcinho – Marcinho Lima
Se tecnologia é cultura, não é ela que deve estar na escola! É a escola que precisa estar na cultura, incluída e incluindo

@Lilian_Ferreira – Lilian Ferreira
Ora ora, pq as ferramentas colaborativas dão voz aos alunos, oportunidade de produzir ao invés de só escutar

@CiberMarcinho – Marcinho Lima
Incentivar a autoria com as TIC é promover inclusão na cibercultura. É repensar a educação e horizontalizar a prática pedagógica

@SoniaBertocchi – Sonia Bertocchi
Não basta estar conectado, é preciso estar inserido. Inclusão digital é diferente de inserção na #culturadigital! #porqueTIC

@CiberMarcinho – Marcinho Lima
Superar o imediatismo do acesso às TIC é promover a inclusão digital com estimulo à sua integração ao cotidiano do aluno-cidadão. #PorqueTic

@CiberMarcinho – Marcinho Lima
Considerar inclusão digital apenas acesso às TIC é negligenciar o potencial transformador de sua incorporação à prat.pedagógica #PorqueTic

@CiberMarcinho –
Marcinho Lima Os dispositivos digitais precisam ser compreendidos e apropriados como ferramentas de ampliação dos sentidos e da cognição #PorqueTic

@CiberMarcinho – Marcinho Lima
A escola fora da cibercultura é um desserviço à educação transformadora. É o mesmo que exclusão social e traduz um esforço vazio. #PorqueTic

@CiberMarcinho – Marcinho Lima
O “currículo com o digital” assume uma dimensão prática que suscita a adequação da intencionalidade pedagógica à cibercutura #PorqueTic

@SoniaBertocchi – Sonia Bertocchi
Em um 1º momento a escola se preocupou mto com a INCLUSÃO, agora é preciso dar mais atenção à INSERÇÃO na #cibercultura #porqueTIC

@miladatgon – Mila Gonçalves
Para ampliar as competências e habilidades dos alunos e dos educadores #porqueTIC

@claudemirviana – Claudemir Viana
O novo assusta mas sempre chega, e aprendemos muito c/ ele! E as tics podem ajudar a educação nisso, a depender de como as usamos #porqueTIC

@cefopeanapolis – CEFOPE Anápolis
#porqueTIC Pq elas nos conduzem a um caminho sem volta e depende de nós,educadores, fazer q este seja um bom e produtivo caminho

Dedico esse post ao comentário – com certa frustração – do livro “A hora da geração digital” de Don Tapscott, 2010. Segundo os elementos pré-textuais da obra, o autor canadense é professor na Universidade de Toronto e também se dedica à consultoria em estratégia corporativa e transformação organizacional.

Capa do livro "A hora da geração digital"

O livro decepciona pela falta de prudência acadêmica de seu autor em alguns trechos, que são fartos de frases de impacto sugerindo senso comum. O estilo de escrita adotado favorece a leitura, mas por ser muito amplo afasta o leitor interessado em uma pesquisa mais aprofundada. A impressão colida é a mesma de participar de uma palestra proferida por um generalista que tenta agradar a psicólogos, administradores, pais, educadores etc. Uma excelente estratégia de marketing para sua venda…

Especificamente sobre a educação no contexto da cultura digital (capítulo 5) destaco dois trechos para reflexão. Uma das minhas incomodações é a ênfase dada necessidade da centralização da dinâmica educacional no aluno. O que vemos hoje – e criticamos – é a centralização do mesmo processo no professor. Será que a inversão dessa polarização resolve/melhora o processo de ensino-aprendizagem? Não seria melhor a ênfase no processo de ensino-aprendizagem onde ambos os sujeitos colaboram e participam ativamente como parceiros? Paradoxalmente, os argumentos do autor se apoiam nessa última ideia, mas a polarização no aluno abre a discussão. Isso me aparenta ser uma contradição ou mesmo um descuido.

Em outro trecho o autor relata uma experiência pessoal qualificada como “interativa”, isso na década de 70 e referente a aulas de estatística na Universidade de Albera:

Foi uma das primeiras aulas ministradas on-line – uma revolução educacional do Prof. Steve Hunka, um visionário em educação mediada por computadores. Isso foi antes do advento dos computadores, então ficávamos sentados na frente de um terminal conectado a um retroprojetor controlado por computador. Eu podia parar a exibição a qualquer momento, revisar a matéria e também me testar para ver como andava o meu aprendizado. A prova também era on-line. Não havia aulas expositivas. É bom saber: a aula de estatística é, por definição, uma chatice. Em vez disso tínhamos um horário que podíamos nos encontrar com o dr. Hunka, que não precisava dar aulas expositiva e podia nos dar atenção personalizada. (TAPSCOTT, 2010, p. 163)

Tapscott exagera e confunde o leitor leigo ao assumir ter vislumbrado aulas mediadas por terminais e que esse método seja interativo. Não o é. O que há, de fato, é transmissão de informação com controle limitado à pausa e repetição. A interatividade extrapola – e muito – o simplismo de um controle remoto e de responder “sim” ou “não” (ver Silva, 2000). Contrariando os princípios matéticos da aprendizagem com computadores introduzidos por Seymour Papert (citado várias vezes no livro), o autor cai em uma contradição e reforça a lógica da transmissão (ver Lima & Leal, 2010) efetivando o instrucionismo. Portanto, aquela aula era mais que expositiva: era puramente instrutiva. Assim, a abertura dada pelo “dr. Hunka” para o atendimento personalizado pode ser entendido como o momento salvador daquele processo de ensino-aprendizagem.

Outro exagero é qualificar e generalizar qualquer aula de estatística como “chatice”. Não acredito na inexistência de educadores da matemática que promovam processos de aprendizado efetivos, inovadores e agradáveis aos estudantes. Esse é um dos exemplos da falta de zelo acadêmico do autor.

Um ponto positivo do livro é reforçar e alertar sobre a questão do descompasso escolar frente à demanda da cultura digital. Se as novas gerações crescem imersas na cibercultura – que privilegia a colaboração, a troca interativa, a participação, a possibilidade da autoria e do posicionamento crítico via ciberespaço – então a educação precisa se incluir nessa dinâmica. Não por mero modernismo, mas pelo fato de que os estilos de aprendizado (e consequentemente o de ensino) são antagônicos aos da Era Industrial (padronização, memorização e repetição).

Até mais.

Obras citadas

LIMA, Márcio Roberto de. Leal, Murilo Cruz . Ciberpedagogia: indicativos para o rompimento com a lógica da transmissão. Vertentes (UFSJ), São João del-Rei, n.35, p.24-35, jan-jun/2010. Acesso alternativo em: http://marcinholima.com.br/publicacoes.php

SILVA, M. Sala de aula interativa. Rio de Janeiro: Quartet, 2000.

TAPSCOTT, Don. A hora da geração digital: Como os jovens que cresceram usando a internet estão mudando tudo, das empresas aos governos. Rio de Janeiro: Agir Negócios,. 2010.

Os atuais acontecimentos no Egito tomam conta do noticiário internacional. O mal estar vai além das perniciosas relações de poder, da violência exacerbada e do regime totalitarista, emergindo a supressão da livre expressão via Internet.

Enquanto estrutura da inteligência coletiva – a expressão da vida na cibercultura – o ciberespaço representa forte ameaça às ditaduras e regimes totalitários, que insistem a se impor sem restrição de forças à liberdade da palavra e à produção da informação. O fato foi confirmado em uma matéria do IDGNow de 29/01/2011, que afirma:

Ontem, após retirar o Twitter e o Facebook do ar, o governo do Egito decidiu interromper definitivamente o acesso à Internet no país. Para isso, foi buscar recursos legais e técnicos. Os recursos legais atingiram diretamente os operadores de telefonia móvel e os provedores de acesso. Todos os operadores móveis no Egito foram instruídos a suspender os serviços em áreas selecionadas. Segundo a legislação, as autoridades egípcias têm o direito de emitir essa ordem. O mesmo aconteceu com os provedores de acesso. O governo Mubarak ordenou que provedores cortassem todas as conexões internacionais para a Internet. Todas as rotas para as redes egípcias foram retiradas, quase que simultaneamente, da tabela global de roteamento da Internet.

A restrição do acesso às tecnologias da liberdade via internet é uma questão que afronta diretamente a cidadania. Abro esse espaço em um blog que se dedica à educação na cibercultura como um alerta e um convite a reflexão. Os processos educacionais são, em sua essência, democráticos e precisam estar atentos ao poder transformador das tecnologias digitais. Mais que uma questão de acompanhar o desenvolvimento tecnológico digital, educar assume o direcionamento de seu uso ético e sempre a favor da cidadania. Afinal, a liberdade é mais bem protegida pela luz do que pela sombra (Pierre Lévy em O futuro da Internet: Em direção a uma ciberdemocracia planetária).

Mahmud Ahmadinedschad - Fonte: http://ishr.org

Raúl Castro - Fonte: http://ishr.org

Hugo Chavez - Fonte: http://ishr.org

Kim Jong - Fonte: http://ishr.org

Veja a matéria completa do IDGNow em http://twixar.com/pRwQA1y

Em tempos onde precisamos rever paradigmas sobre “o fazer” e sobre “pensar o fazer”, um vídeo que nos faz refletir sobre as possibilidades cognitivas suportadas pelo ciberespaço.

[videolog 442047]

[videolog 442132]

Embora com certo atraso, hoje tive acesso  ao livro “Futuro da internet – Em direção a uma ciberdemocracia planetária”, que foi lançado em meados de 2010 com autoria compartilhada por André Lemos (UFBA) e Pierre Lévy (University of Ottawa). Trata de uma tradução atualizada e (re)contextualizada por Lemos da obra “Cyberdemocracie: Essai de Philosophie Politique”, do mesmo Lévy e que foi lançada em 2002 na França.

Dedicarei esse post a uma resenha do excelente prefácio escrito por Lévy, o qual é iniciado fornecendo o objetivo da obra: a análise das transformações contemporâneas da esfera pública como resultado da expansão do ciberespaço, salientando perspectivas associadas à democracia.

O livro "O futuro da internet: Em direção a uma ciberdemocracia planetária

Lévy indica o ciberespaço como meio de liberdade da expressão pública, apontando a “computação social” (que diz respeito às funcionalidades da Web 2.0) como processo estruturante de uma memória coletiva e compartilhada em escala global. Nessa nova etapa da internet e da cibercultura os “utilizadores” assumem a criação e a organização de conteúdos (via blog, por exemplo), rompendo com o paradigma da cultura massiva – onde a criação, transmissão, crítica e categorização do conteúdo eram reservadas aos mediadores tradicionais (mídia de massa). Suscintamente, “os indivíduos implicados nas atividades de colaboração e interativas da Web 2.0 […]” atuam “[…] recolhendo, filtrando, redistribuindo, fazendo circular a informação, a influência, a opinião, a atenção e a reputação […]”. Isso implica em um ganho vertiginoso de velocidade e circulação de ideias, “aumentando as possibilidades da inteligência coletiva e, por sua vez, a força do povo”.

Interconexão, criação de comunidade e inteligência coletiva são apontadas pelo filósofo como as três tendências da cibercultura. Concomitantemente, o crescimento do ciberespaço estaria associado ao desenvolvimento desses elementos. Em um breve resgate histórico, Lévy afirma que os 60 anos desde os primórdios da computação representam a pré-história da cibercultura. Aponta que, os esforços empreendidos até o momento quanto a virtualização da informação foram no sentido do desenvolvimento de técnicas de armazenamento, transmissão, tratamento e endereçamento, persistindo uma lacuna que diz respeito ao sentido/interrelacionamento dessas informações.

No final do prefácio Lévy apresenta sua pesquisa em Ottawa que busca resolver o problema da semântica na Web, pois segundo ele “pela primeira vez na história da humanidade o conjunto da memória e da comunicação mundial encontra-se reunido no mesmo ambiente técnico interconectado”, porém de forma fragmentada. Lévy dedica-se à implementação de um sistema de coordenadas no ciberespaço que atenda a requisitos semânticos e não a endereços estáticos (as famosas URLs). Seria uma linguagem que permitiria um entrelaçamento no sentido da informação, independente do sistema e da língua em que ela estivesse codificada. Se efetivada, essa nova forma de recuperação da informação ampliaria ainda mais as possibilidades cognitivas e comunicacionais. Em outras palavras, seria a democratização em escala global da inteligência coletiva.

Vale a pena conferir também essa entrevista com o filósofo: http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,MUL1284962-6174,00.html

Até mais!