Recentemente assumi vaga docente (proveniente de concurso público) na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Trouxe comigo a lembrança e os ótimos momentos que passei em minha estadia docente na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM/Diamantina), onde fiz amigos: professores e alunos.
Esse semestre atuei na Licenciatura em Física e trabalhei o “Ensino de Ciências”. Algo que norteou meu trabalho de formação de professores foi a necessidade de desenvolver um processo que buscasse romper com o paradigma do ensino baseado exclusivamente na perspectiva da transmissão e o uso de estratégias tradicionais de sua perpetuação. Além dos tópicos norteados pela pesquisa de Ensino de Ciências, a cibercultura e o uso dos recursos do ciberespaço dentro e fora da sala de aula foram presentes nas discussões, que renderam e vêm rendendo bons frutos. Abaixo, um deles, um pequeno texto em co-autoria com um aluno: Bruno Caldas Coelho.
Aluno bom é aluno ativo!
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A cibercultura e a rápida reconfiguração do ciberespaço instrumentado pela WEB 2.0 estão propiciando um novo paradigma para a comunicação e para o acesso à informação em rede. Esse fato sugere mudanças nos processos educacionais em curso, buscando sua adaptação à realidade e a concepção de novas formas de (re)construção do conhecimento.
“Nativos Digitais” é o termo utilizado por Marc Prensky para caracterizar a nova geração de alunos que já começaram a vida inserida no ambiente tecnológico digital, onde a rapidez, a facilidade de acesso e produção de conteúdos são fatores capazes de promover mudanças no senso comum pedagógico (ensino transmissivo). De acordo com Prensky, “…eles [os nativos digitiais] passaram a vida inteira cercados e usando computadores, vídeo games, tocadores de música digitais, câmeras de vídeo, telefones celulares, e todos os outros brinquedos e ferramentas da era digital”, assim perde-se o sentido das escolas continuarem a insistir somente nos materiais e métodos tradicionais. A tecnologia digital permite, além da implementação de uma gama de estratégias educacionais, a ampliação do diálogo entre os professores e alunos na rede. Com isso, podem-se concretizar processos de aprendizagem não somente no espaço físico escolar, mas também num ambiente virtual com acesso remoto e em qualquer horário desejado.
André Lemos comenta em seu artigo sobre Cibercultura, a evolução da esfera midiática e a mudança na forma de interação possível: “[…] cada transformação midiática altera nossa percepção espaço temporal, chegando na contemporaneidade a vivenciarmos uma sensação de tempo real, imediato, ‘live’, e de abolição do espaço físico-geográfico”. Essa prerrogativa confirma a idéia de Prensky, de que o ambiente digital permite ir muito além do sistema educacional tradicional, que exige o espaço físico para a efetivação da educação supostamente de qualidade. Emerge com o virtual um espaço interativo, dialógico, acessível e colaborativo para os processos de aprendizagem.
A interatividade no virtual permite ao discente maiores possibilidades construção de conhecimento com esclarecimento de dúvidas, proposição de sugestões, exposição de interesses e concretização de propostas investigativas. O conteúdo da unidade curricular trabalhado junto do professor pode ser (re)discutido em grupo e em rede. A troca coletiva de impressões aliada aos recursos da multimídia podem potencializar a aprendizagem, afinal o aluno interage com o seu grupo mediado pelas funcionalidades da web, deixando de ser um receptor do conhecimento e se posicionando como sujeito ativo e construtor de sua própria aprendizagem.
O ensino de ciências com tecnologias digitais pode envolver simulações virtuais – como as do http://phet.colorado.edu/ – que facilitam execução de práticas experimentais, minimizam os riscos à integridade física dos estudantes e também as dificuldades de acesso aos laboratórios especializados. Cabe esse destaque, pois é importante a busca de novas formas de estímulo intelectual para o desenvolvimento cognitivo do discente. O professor, sujeito importante na promoção da aprendizagem, deve buscar ampliar as estratégias de interação com os alunos e com os conteúdos trabalhados. Nesse sentido, os recursos virtuais podem ser ampliados pelo ciberespaço e trazer novas perspectivas para o ensino-aprendizagem. Espera-se com isso o aumento da adesão às práticas no virtual e uma maior motivação dos alunos nesses processos.
Bibliografia:
PRENSKY, Marc. Digital Natives, Digital Immigrants. On the Horizon, 2001.
LEMOS, André; Cibercultura: Alguns pontos para compreender a nossa época. In: Olhares sobre a Cibercultura. Sulina, Porto Alegre, 2003; pp. 11-23
DELIZOICOV, Demétrio; ANGOTTI, José André; PERNAMBUCO, Marta Maria. Ensino de ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002. 364p.