Na última sexta (24/08) acompanhei online o evento de lançamento do “Grupo de Estudos: Educar na cultura digital”. O evento foi seguido de um interessantíssimo o debate entre o professor André Lemos (UFBA), Rodrigo Njem (Safernet) e a professora Lea Fagundes (UFRGS).

Os especialistas André Lemos, Rodrigo Nejm e Léa Fagundes (da esq. para a dir.) em debate mediado por Renata Simões (camisa vermelha) - Fonte: Educarede

Lemos abriu sua fala caracterizando a cibercultura, seus princípios e simplificou-a afirmando que vivemos a “cultura da leitura e da escrita”. Em uma linha geral, isso quer dizer que os dispositivos digitais e o acesso aos recursos da WEB 2.0 elevaram nossa condição de usuários de informações para seus produtores. Ele citou os blogs, vídeo-blogs, Twitter e outros recursos gratuitos como ferramentas que motivam a autoria e publicação em rede.

Já Rodrigo Njem trabalhou a questão da “ética do clique na cultura digital”. Foi reforçada a ideia do ciberespaço como universo digital público, que exige critérios para a transitabilidade e, fundamentalmente, nos comportamentos assumidos pelos interagentes. Ficou clara a mensagem de que é necessário potencializar ou uso ético e pedagógico do ciberespaço desde a infância.

Lea Fagundes fez uma fala impactante. Com 80 anos de vida, 60 de docência e coordenando o Laboratório de Estudos Cognitivos (LEC/UFRGS), rememorou as diferentes tecnologias e suas relações com a educação. Rebateu o argumento de sermos “reféns da tecnologia”, qualificando os equipamentos como instrumentos de ampliação dos sentidos e da cognição do homem. Reforçou que apesar dos alunos viverem a cultura digital a escola continua fora dela, sendo necessária imediata reconfiguração de seus pressupostos (currículo, formação de professores etc). Mesmo com o pouco tempo disponível, a palestrante apresentou parte de seu trabalho com o UCA (um computador por aluno), indicando melhorias e transformações no ato educativo já alcançadas. Não posso omitir que notei certa aproximação entre as idéias de Lea e o educador Seymour Papert, que inclusive já visitou o LEC.

Durante a seção de perguntas surgiu o dilema entre o educar “para a” ou “na” cultura digital, que foi discutido com opiniões divergentes. Aqui, contribuo com a minha modesta opinião e experiência sobre o tópico. Acredito que a Educação precisa ser vista com o tamanho de sua complexidade. Afirmar que não é necessário educar “para” a cultura digital é muito relativo.  Se os “nativos da cultura digital” (geração Y) vêm de famílias que já possuem o acesso às tecnologias digitais e já possuem o discernimento de seu uso, temos um contexto bem favorável a pular a etapa do “educar para”. Entretanto, não podemos ignorar que o Brasil é enorme em tamanho e diversidades culturais, ocupacionais, sócio-econômicas etc. Diariamente, em minha própria sala de aula vivencio demandas heterogêneas. Acredito que não se faz educação sem levar em conta o contexto. E reflito: será que uma sala de aula de São Paulo, com alunos socialmente bem colocados é a mesma sala de aula de uma cidade do interior do País, com alunos de realidades diversas e socialmente menos favorecidos? Sabemos que não…

Na verdade, como educador, tenho de me preparar para educar “para a” e “na” cibercultura. Não consigo ver essa dicotomia. Creio que é melhor conviver na “conjunção” entre eles e na busca do equilíbrio do processo educativo.

Termino o post convidando-o a participar do grupo de estudos “Educar na cultura digital”. O endereço para informações e cadastro é: http://educarnaculturadigital.org.br/.

Certamente, vamos debater essa questão e muitas outras. Espero você lá.

Ouras (re)visões:

– Resumo e comentários-Grupo de Estudos Educar na Cultura Digital (por@erionline)

– Educar na Cultura Digital (por @cybelemeyer)

– Educar na Cultura Digital (por @samegui)

– Grupo de Estudos: a proposta (por @soniabertocchi)

– “Educar na Cultura Digital” é tema de debate na Bienal do Livro(por@safernet)

comentários
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  2. fernandolvieira disse:

    Cibercultura, realmente, só existe para quem não nasceu inserido nela. Para os contemporâneos, ela é simplesmente cultura.

    Sobre o que Lemos disse, acredito que estamos na era dos vídeos. imagem, som e textos se permeaim e com isso, ultrapassam o limite da “leitura e escrita” formando a era da lógica e interpretação. A web 2.0 chegou pra valer, e, finalmente, estamos colhendo seus frutos. A interação está cada vez mais palpável e todo mundo é autor, na web.

    Sobre a fala de Rodrigo Njem, acredito que a não existe ética na web. A web não é um mundo apenas virtual. O que acontece lá, não é faz de conta. Ética é ética, seja onde for. A web, com a impressão de anonimato que transmite, abre portas para que crimes do “mundo real” sejam cometidos no “virtual”. Mas, o mundo é um só. O que virtualmente reflete imediatamente na realidade das pessoas e empresas. Não vivemos um “Fringe” da web.

    A fala de Lea fagundes foi pontual. Quem ergue a bandeira de “dois mundos”. O criador deste paradigma é o professor. Um sujeito que deveria ser inovador e ampliador de horizontes, muitas vezes, se fecha em seu mundinho retrógrado, embasados em uma instituição fundada no séc XVI e, sutilmente alterada, num mundo que foi revolucionado várias vezes. Mestres: saiam da caverna!

    E, finalmente, chegando à fala do Marcinho, acredito, como ele, que cada caso é um caso. Mas, o agente responsável por tornar estas salas de aula heterogêneas, em algo que tenha o mínimo de pluralidade, pois, a cobrança sobre estes jovens(Enem, Vestibulares, Inserção no mercado de trabalho), possivelmente, será a mesma. Enfim, é professor? Encare o fardo, não é fácil. Mas receber como resposta, em tempos tão difíceis, um olhar brilhando, não tem preço. Inovem. Não sejam dinossauros operando máquinas de escrever. Se o aluno sabe a, aprenda a com ele e ensina a ele b. Troque. Isto é educação.

    Abraços

    • Marcinho Lima disse:

      Olá!

      Sua afirmação quanto a cibercultura – que ela só existe para quem não nasceu nela – me fez parar aqui e pensar. Você não deixa de estar certo. Mas, do ponto de vista acadêmico essa cultura digital se faz como um ponto de partida para buscar diferentes reflexões sobre os destobramento do uso das tecnologias digitais na economia, educação, comunicação… (existe alguma área que não use tais ferramentas??? Risos). É uma espécie de referencial teórico de análise e argumentação. Dai a importância de linhas de pesquisa, ensino e extensão sobre o tema.

      Acredito que você possa entender a colocação de LEMOS sobre leitura e escrita no sentido de convergência de todas as mídias. Elas não são excludentes, na verdade complementares. Talvez eu tenha me expressado mal. Penso que foi isso o que ele quis dizer, na verdade. Fica aqui o retratamento, ok?!

      Compreeendo também que ética é ética, independente de qualquer que seja o meio! Entendi a colocação do Rodrigo como um indicativo de que temos – como educadores – de cuidar cuidadosamente desse aspecto desde as séries básicas da escola. Isso faz sentido… Plantamos as sementes… elas germinam… e assim podemos melhorar… etc

      As demais partes faço coro contigo, respeitando os ritmos individuais e as condições de heterogeneidade existes em todo lugar.

      Abraços, obrigado!

  3. Gisele Cristina Vieira disse:

    O homem apreende a realidade por meio de uma rede de colaboração na qual cada ser ajuda o outro a desenvolver-se, ao mesmo tempo que também se desenvolve. Todos aprendem juntos e em colaboração. “Ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo” (ALMEIDA, s/d e FREIRE, 1993, p. 9 ).

    Os avanços tecnológicos possibilitaram um novo ambiente de conhecimento, de troca de informações, é possível interagir com a opinião dos alunos sobre o que está sendo divulgado, diferentemente das mídias usadas no auxílio dos estudos no século passado, onde as fotografias, vídeos prontos há muito tempo, jornais, cinemas e televisão, tornavam os alunos meros expectadores.

    ALMEIDA, Maria Elizabeth Biaconcini, Tecnologia na escola: Criação de Redes de conhecimento. Disponível em:
    http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/introdutorio/popups/m1_e2_pop_TecnologiaNaEscola.html Acesso em 24 out. 2014.

    • Marcinho Lima disse:

      Gisele, as palavras de Paulo Freire – Citadas pela Bete Almeida – nunca foram tão atuais… Mas nossa educação é resistente e – infelizmente – ainda não compreendemos esse ensinamento em sua totalidade… Não esquecendo que: “[…] educação autêntica […] não se faz de A para B ou de A sobre B, mas de A com B, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 1987, p.84).

      FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

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